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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Exércitos privados mimetizam Forças Armadas dos EUA

FOLHA DE SÃO PAULO

Empresas mercenárias, como a Blackwater, "são capazes de derrubar um pequeno governo", afirma autor americano Jeremy Scahill diz que governos não precisam mais de aliados - basta alugar soldados; empresas agem em impunidade quase total.
ANDREA MURTA - DA REDAÇÃO

A empresa americana Blackwater começou a aparecer para o público em 2004, quando quatro de seus "agentes privados de segurança" - nome eufemístico dado a mercenários modernos - foram mortos, mutilados e queimados por uma multidão furiosa na cidade iraquiana de Fallujah.
Em 2007, novas manchetes dedicadas à Blackwater deram pistas do motivo do ódio de iraquianos a agentes privados: mercenários da empresa mataram 17 civis em Bagdá, em ação, segundo investigação do FBI, absolutamente injustificada.
E os mercenários não estão no Iraque por acaso: são contratados pelos EUA para, principalmente, fazer a segurança de diplomatas e instalações -com ação facilitada pela quase completa impunidade. Para Jeremy Scahill, autor de "Blackwater -A Ascensão do Exército Mercenário Mais Poderoso do Mundo" (Companhia das Letras, 2008, R$ 52), os negócios andam tão bem para empresas mercenárias que elas já "são capazes de derrubar um pequeno governo". E atuam, inclusive, na América Latina. Leia a seguir a entrevista que ele concedeu à Folha.

FOLHA - Como a Blackwater reflete a história da guerra moderna?
JEREMY SCAHILL - Ela representa a nova face das guerras travadas pelos EUA. Desde a Segunda Guerra, o governo americano vem privatizando radicalmente suas capacidades militares. No Iraque, há mais agentes privados do que soldados americanos. A Blackwater formou um aparato paralelo das forças de segurança: tem Força Aérea, Marinha, aeroportos. E 90% dos contratos da Blackwater são com o governo americano.
Agora estão trabalhando em sua própria agência de inteligência, uma CIA particular. Veja, atualmente os EUA têm 16 agências governamentais de inteligência, com um orçamento conjunto de entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões -o número exato é secreto. 70% desse orçamento é usado para pagar serviços de empresas privadas. Quem garante que uma empresa privada que tem milhões em contratos com o governo americano não vai incluir em relatórios para outros governos informações que são de interesse da Casa Branca?

FOLHA - Qual a relação dos mercenários com a guerra ao terror?
SCAHILL - São parte essencial da guerra ao terror. Um presidente como George W. Bush pode ganhar muito com essas empresas. Ele não precisa mais formar uma coalizão com governos estrangeiros nem lidar com uma opinião pública internacional hostil. Pode pagar por uma coalizão de corporações, que vão contratar mercenários, inclusive em países cujos governos se opõem às guerras.
Isso aconteceu no Chile, que votou contra a invasão do Iraque quando era membro rotativo do Conselho de Segurança da ONU. O governo Bush, através da Blackwater, enviou para o Iraque centenas de chilenos.
Outra questão é que, como não há contagem oficial das mortes dos agentes privados, isso encobre o custo humano. Os americanos pensam que há 150 mil soldados no Iraque, mas há outros 180 mil mercenários contratados pelo governo. Então na verdade são mais de 330 mil soldados.
E não há leis sendo aplicadas sobre a punição de agentes privados em caso de abuso. Isso é uma ameaça à segurança das pessoas do mundo todo, porque não param de crescer esses exércitos privados com capacidade suficiente para derrubar um pequeno governo.

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