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sábado, 12 de setembro de 2009

IRAQUE: REPETINDO A HISTÓRIA?

Anthony Zinni, general da reserva estadunidense, durante anos exercendo a atividade de assessor do Departamento de Estado e militar responsável pelo acompanhamento da problemática do Oriente Médio, pronunciou, recentemente, um discurso em Arlington, frente a centenas de Oficiais, quando enfatizou: "

Corremos o risco de fracassar no Iraque por falta de uma estratégia e de mecanismos para armar as peças do quebra-cabeças (...). Nossos sentimentos, nossas sensibilidades se forjaram nos campos de batalha do Vietnã (fala um veterano), onde escutamos desavergonhadas mentiras e contemplamos, sistematicamente, o sacrifício de nossos irmãos. Agora eu lhes pergunto: esta história está se repetindo?

O general Zinni, evidentemente não é um pacifista. Em 2000, respaldou a candidatura Bush e, em 2003, assessorou o Departamento de Estado na luta antiterrorista nas Filipinas e na Indonésia.

Outro brilhante oficial da reserva, Wesley Clark, que dirigiu a campanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em Kosovo, e apresentou-se como pré-candidato democrata para as prévias presidenciais de 2004, não é menos crítico com os dirigentes de seu país quanto à intervenção no Iraque. Ambos os generais falam abertamente da "fraude iraquiana".

De Bagdá, um analista militar escreveu: "Nos meteram em um embuste que será impossível sair com dignidade e honra. Nos enganaram com uma informação sistematicamente manipulada. Os comunicados de Bagdá são tendenciosos, mentirosos e incompletos. As coisas vão muito pior do que nos informam. Nossa administração neste país é muito ineficiente e corre mais sangue do que o público tem conhecimento. Hoje, nos encontramos muito próximos de um grande desastre".

O que acabamos de ler não foi inventado. O texto foi publicado no Sunday Times, de Londres, por Thomas Edward Lawrence, autor de Os Sete Pilares da Sabedoria (1926), o homem reencarnado nas telas de cinema por Peter O´Toole. Naquela época, as tropas britânicas encontravam-se ocupando o que se chamava Mesopotâmia, antiga província do fenecido império turco e futuro Iraque. Durante a primeira Guerra Mundial, Lawrence havia participado do nascimento do nacionalismo árabe e da organização da guerrilha contra um exército turco aliado da Alemanha. Em 1920, a mesma guerra de guerrilhas havia se voltado contra Londres no Iraque, segundo li em minha velha Enciclopédia Britânica, na esplêndida edição de 1950.

Naquela ocasião, tal como ocorre nos dias atuais, um libertador anglo-saxão pretendia implantar a democracia e forjar uma nação. Como hoje, os iraquianos eram divididos pela geografia, religião, raça e cultura; os sunitas contra os xiitas, curdos contra árabes, norte contra o sul e tribos contra tribos.

Assim como ocorre na atualidade, o ódio ao ocupante anglo-saxão voltou-se mais forte que todos os ódios anteriores, até cansar o leão britânico.

Leio em minha enciclopédia que o general Stanley Maude tomou Bagdá em março de 1917 e proclamou: "Nossos exércitos não entram em suas cidades como conquistadores mas sim como libertadores". Isto não nos faz recordar algo pronunciado bem recentemente?

Três anos após, a ocupação britânica havia alcançado o milagre de unir os iraquianos e todo o país encontrava-se rebelado, desde o sul tribal até o norte curdo. Em poucos meses, os ingleses perderam 425 soldados e os iraquianos milhares de cidadãos. Para pacificar o país, Londres imaginou instalar um rei, o árabe Faissal, companheiro de aventura de Lawrence. Porém, Faissal vinha da Arábia e nunca havia pisado na Mesopotâmia (vários membros do governo provisório do Iraque viviam no exílio há mais de vinte anos).

Entretanto, tal fato pouco importou aos ingleses. Organizaram um referendo que deu 96% dos votos a favor do inventado rei, e, como os distúrbios continuavam, se apostou em uma solução técnico-militar: o bombardeio sistemático das regiões rebeldes. O comandante da Força Aérea no Iraque, Arthur Harris, ensinou aos iraquianos, segundo suas próprias palavras, que "em 45 minutos um povo pode desaparecer totalmente do mapa e a terça parte de sua população completamente aniquilada". Winston Churchill, que como ministro das Colônias havia apadrinhado a criação do Iraque, Jordânia e Palestina, foi mais lúcido e disse que o Iraque era "um vulcão ingrato".

Hoje em dia, os norte-americanos começam a reclamar dos iraquianos pela "ingratidão" enquanto o vulcão encontra-se em plena erupção. Como o Departamento Árabe de Londres, em 1920, os "falcões" republicanos de Washington que fazem a política e a guerra, desde 11 de setembro de 2001, continuam deslanchando brilhantes idéias e grandes projetos.

Lawrence da Arábia vaticinou o desastre aos membros do Arab Bureau e estava coberto de razão: a Inglaterra teve que reconhecer a independência do Iraque, em 1931, porém o país nunca mais se estabilizou, até que, em 1979, o sátrapa Saddam Hussein começou a governar o país com punho de ferro.


O general Anthony Zinni tem freqüentemente alertado os seus herdeiros do Pentágono, sobre a possibilidade de ocorrer um desastre semelhante. Não sei se ele teria lido alguma vez Lawrence da Arábia, porém sendo um especialista da região, creio que o tenha feito e recorde como a guerrilha de Lawrence enfrentava um poderoso exército turco, encerrado em cidades e bases militares, porém incapaz de controlar um vasto território. Logicamente, essa guerrilha se beneficiava da simpatia de uma população da qual somente 2% engajava-se na resistência patriótica, porém o restante do povo não ousava denunciar essa minoria às forças de ocupação.

Analisando acuradamente a História do Iraque, logicamente cabe a seguinte pergunta: algo de novo aconteceu sob o sol mesopotâmico?

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